06 janeiro 2009

Clarice Lispector: Uma Aprendizagem

"Não, havia ela pensado, antes o sofrimento legítimo que o prazer forçado."

É preciso muita coragem para construir toda uma obra em torno de questões inexplicáveis, questões as quais não se pode sintetizar razões em linhas retas, ao contrário, vê-se desrazões cíclicas e bipolares. Sintetiza-se, muito sutil e regiamente - diga-se de passagem - sentimentos, e as questões que a eles concernem, embora se traduzam em sentimentos afoitos, nada importam!
A personagem da obra de Clarice, inspirada em uma figura mitológica do Vale do Reno(Alemanha), chamada Loreley, nos demonstra como, mesmo após ter tido cinco amantes, é preciso aprender a amar, para assim, desaprender. Uma descoberta do que há muito já se sabe, é sempre uma redescoberta do que jamais se entenderá. Observa-se e sente-se, apenas. Tal a nossa integração com o mundo; sensível. A aprendizagem se dá, portanto, no plano da textura, daquela que se tateia, da qual se recebe o odor e seu peso na atmosfera. O peso demasiado: angustia; a leveza plena: o estado de graça.
A comunhão do ser que se entregar à textura das desrazões cíclicas e bipolares palavreadas por Clarice, trará a redescoderta do incompreensível.

Livro: Uma Aprendizem ou o Livro dos Prazeres (1969)

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