22 novembro 2011

Nem nomes, só máscaras.

Capa do jornal Folha de São Paulo de 18/11/2011


O sangue escorria de sua testa. Sua temperatura misturava-se com a do quase inverno e desenhava em sua face penínsulas continentais. Era um mundo derramado que invadia sua boca e abafava seu grito. Espirrava gotículas ao ar, que chocavam-se com outras faces tão limpas; escudos. Arrastaram-no: “ qual seu nome?”
- Tenho o nome que me representa; responde o acossado.
Fitou a imagem, o semblante, o mundo escorrido: “um rosto ensanguentado? Um choro de dor e desespero?”; interroga o inquiridor.
- Pois assim me reconhecem!
Sabia muito pouco do acossado: “seu sangue de fora não lhe representa. A fração que que lhe fugiu das veias da derme é mínima, insignificante; você tem muitos outros sangues!”
- Pois este sangue fugiu-se de mim, fragmento do que sou, e espirrou em outras faces tão limpas. Escorre um pouco em seu escudo, veja! – Prostrou-se silencioso e calmo, quis saber um pouco mais de si: “qual seu nome?”; interrogou ao inquiridor que não entendia quase nada de representar: “eu sou este que te vê.”
O momento basta para representar. Nunca veremos todos os sangues, pois quando todos os sangues fugirem ...

19/11/2011

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