04 junho 2012

O Flerte


Ele, que todos os dias tomava seu  café-da-manhã em pé; alinhava seus afazeres, listava suas obrigações, e vislumbrava aquele muro de 10 metros de extensão e 5 metros de altura. Ela tinha certeza que aquele muro era perfeito para grafitar. Um desenho delicado, em tons sutis: uma sereia ficaria lindamente magnífica ali!

Para ele, pouco importa! No fundo é um amontoado de tijolos, cimento e massa corrida.

Ela, que todos os dias se olhava completamente nua no espelho. Fazia poses para que ela o adorasse e lhe elogiasse com olhares tão contemplativos. Às vezes, não raras, seu corpo lhe mentia. A revestia com trajes finos, frágeis, macios e pueris.

Pouco importa! No fundo é um amontoado de pele, músculos, órgãos, sangue arterial e venoso, e ossos.

Ele, que todos os dias se olhava completamente nú no espelho. Ele a queria. A tomaria para si. Começaria por tatear seu clitóris, beijaria seus seios, lamberia sua vulva, rasgaria seus trajes. Ela o levaria à insanidade. Ela queria a culpa pela loucura dele. Se permitia prostrar-se de quatro e ser invadida. Rebolava. Fazia poses para que ele a adorasse. Ela o queria teso e grosso dentro dela. Ele está nela e agora ela é completa. Mais forte. Mais vil. Teso e grosso. Sangue arterial e venoso. À beira da insanidade. Ela de dilacerados trajes finos e frágeis. E a vontade dele era de asfixiá-la. Mais forte. Mais vil. Teso e grosso. E o gozo sucumbe o corpo.

Se deitam nús, completamente. Logo, ela se vira, toma um alicate e começa a podar as unhas dos pés. Ele se ressente, a vontade dele é de abracá-la: “por que ela não pousa a cabeça em meu peito e diz ouvir meu coração bater?”

Pouco importa! É só um músculo oco e retrátil que bombeia sangue arterial pelo corpo. E ela, que todos os dias tomava seu café-da-manhã em pé, olhava aquele muro, listava suas necessidades, alinhava suas obrigações: “ uma imagem da flor atômica ficaria escadalosamente magnífica ali!”

Nenhum comentário: